terça-feira, 25 de agosto de 2009

Porque não se pode dizer o silêncio

Falar pra quê?
Pra desabafar, pra soltar um grito que estremeça até os rins (e os intestinos, esses inúteis). Pra engrandecer o monstro interior que berra por liberdade, pra transgredir, pra reforçar o que dissemos desde sempre e contradizermos o que deixamos de acreditar, o que caiu de moda de acreditar.
Falar pra calar a boca de quem os pensamentos irritam ainda mais do que as colocações, pra provocar ainda mais os que proferem palavras aleatória e alienadamente pelo puro e simples prazer (e até certa inocência, eu diria) de falar bobagens. Falar pra emudecer de vez o cataclismo diário que é querer falar de coisas para as quais o direito de falar não foi adquirido – legisla-se muito pouco sobre isso depois da ditadura da democracia.
Falar pra importunar, pra encher mesmo, e pra sacanear muitas vezes. Pra tirar de onda e pra expor escandalosamente as feridas sanguinolentas da alma e do coração incontrolável. Falar pra enaltecer o espírito, pra exercitar a voz... Pra não ser indiferente nem omisso. Pra não ser cínico, e semear a urgente beleza de falar o que se vê.
Pra descansar o senso angustiado que lateja louco, pedindo opinião, por favor, opinião. Falar pra fugir do abismo insondável que o silêncio cava dentro de nós, pra espantar a loucura e fazer nascer outra mais linda e leve e galopante. Pra se revelar e se rebelar. Pra rasgar em ferro ardente: LIBERDADE, bem profundo, bem doído, bem do lado de dentro do peito, que é pra gente não esquecer nunca mais de como isso é importante.
Falar pra tocar, pra chegar junto, pra olhar no olho da pessoa do teu lado e sentir que ela te achou mais gente por causa da tua voz. Falar porque é preciso coragem, porque nada nesse mundo até hoje se fez mais ousado que a palavra. Pra ruir com a ignorância, principalmente a em relação a nós mesmos. Pra varrer longe o império de achismos e pensismos que permeia as relações mais cotidianas. Pra conduzir o teu amigo ao teu interior e reduzir teu inimigo com tua inteligência.
Falar pra simplificar. Pra desenvolver e ampliar. Pra evoluir. Pra ter uma razão de ser lembrado nesse mundo em que muitos já passaram e mais ainda passarão (se o próprio homem permitir que isso ocorra). Pra destituir absurdos e aniquilar hipocrisias. Nunca para fazê-los ainda maiores, ainda mais purulentos e asquerosos.
Falar para enfeitar o ar com voz e luz, com a palavra que é sempre bela, sempre livre e sempre viva.
Falar porque é justo que se fale. Porque não há como dizer O silêncio e com ele se diz pouco ainda. E porque é exatamente a palavra o mais confiável e poderoso instrumento de paz.

Por favor, 100 g de limites...

Tem horas que as coisas fogem tanto do controle que a única coisa que a gente pode fazer é se aquietar e esperar que elas voltem pro seus lugares.
Eu mesma sou de cabeça pra baixo, mas odeio quando tudo fica de cabeça pra baixo. Gosto de ser só eu mesmo, a doida que incomoda e atrai a atenção das pessoas normais, pra ver as caras delas de ódio e de admiração cada vez que apronto mais uma (e egocêtrica é a sua mãe).
Só que agora nada está assim. As coisas estão mil vezes mais bagunçadas do que eu. Mil vezes mais do que meu quarto e o interior do meu carro. E eu sou a própria impotência que neste momento vos fala.
E tudo me incomoda tanto que já estou inclusive me movimentando pra, de alguma maneira, arrumar essa confusão terrível. Agora, olha que descabimento... Logo eu, que sofro até pra organizar meus pensamentos! Mas estou, sim... Limpando uma coisinha aqui, tapando um buraquinho ali, escondendo debaixo da cama as besteirinhas que ainda não consigo jogar fora, usando melindrosos sorrisos e palavras pra consertar os estragos que eu levianamente causei, e que agora já estão demais. É que só agora me dei conta que eu preciso lembrar-me dos limites... E eu extrapolei todos. Eu gostaria muito de ter mais medo de tudo... Assim eu não acabaria cometendo a quantidade de erros e excessos que cometo (redundantemente) todos os dias.
E nem era pra ser assim...
Porque eu sempre me acho muito governadora de mim. (E muito ousada, também, romântica e tolamente ousada). E sempre acho que tudo vai se resolver, que se não tiver saída a gente inventa, que se não tiver teoria, ou prática, tem sempre um sonho pra me ajudar a buscar as respostas que procuro.
Só que dessa vez não há. Injetou-se pra debaixo da terra tudo aquilo que sempre me fez acreditar nas portas e caminhos de emergência. E procuro as maneiras, tento inventar as saídas... E não há nem práticas nem teorias... Muito menos sonhos.
Sei que ainda posso causar as tais impressões que sempre causei... Mas agora não sei mais se ainda quero, de repente deixou de fazer sentido. Vai ver eu surtei de vez. Ou pior, virei adulta.
Nunca pensei que fosse precisar tanto dos conselhos que nunca ouvi quanto agora...
E daí que nessa bagunça medonha que tomou conta das coisas ao meu redor, eu tou sentindo falta, a maior do mundo, de ser aquela pessoa que eu jurei pra mim que nem morta seria.

Mais um exemplar de pessoa normal

Tá.
Eu morro de preguiça mesmo.
De escrever também... Ultimamente de escrever, principalmente.
Mas é que tá demorando demais esse hiato que se entalou no meio do meu lirismo. Empacou legal, não sai nem coisa do tipo "o amor/ uma flor/ uma dor".
Ok, preferível mesmo nem sair nada.
Mas é ruim porque eu sempre tinha uma coisa bonitinha pra escrever, entre suspiros melancólicos e súplicas interiores, e hoje em dia só o que tenho é a preocupação de ter que pagar todas as minhas contas até o fim do mês.
Saco, as responsabilidades acabam com a poesia da vida, tudo fica frio, duro, chato, feio, prático demais... Aff... Ser normal é medíocre, é o Ó.
Por isso que as pessoas brilhantes são todas doidas, porque elas sabem, ou sentem, que se preocupar demais com a vida leva a gente a ficar burro pra enxergar e expressar as coisas mais bonitas.
O mundo real cega a gente pra beleza que brota (em demasia até) das reticências e subjetividades e peculiaridades de tudo que nos circunda.
Daí que meu estado atual é de plena e pacata imbecilidade intelectual.
Eu sou uma jumenta enquadrada.
Corro pra arrumar um diploma, dinheiro, uma expectativa digna de futuro, enquanto minhas idéias mais buliçosas cristalizam-se em meio à necessidade cívica de ser cada vez mais eficiente e eficaz.
Uma merda, eu lamento que só.
Realmente um fenômeno de inteligência eu nunca fui (um pouco cheia da lábia, talvez), mas eu era feliz com as minhas rimas bobas, elas me emocionavam e me faziam sentir menos como me sinto agora... Uma andróide de carne e osso.
Uma máquina óbvia, tosca e comum que a sociedade inventou e denominou de "pessoa normal".

The Hell

Hoje eu tampouco sei como começar. De certo há de existir alguma maneira, mas só posso dizer que não sei qual, e não encontrando eu começo do jeito que dá. Ou seja, de qualquer jeito.

Eu não tou legal. Não mesmo, embora tenha alguns motivos relevantes para estar ótima, mas eu nunca fui normal, e hoje não ia ser diferente. Eu estou péssima. Sabe assim quando a pessoa tá agoniada com o mundo, tá muito puta por existir?! Me perdoem os religiosos de toda sorte, mas tem hora que viver cansa, e a vida só tem sentido porque a gente passa ela quase toda sabendo que vai morrer, daí vemos graça em tudo.

Sim, fora todas as merdas que eu acabei de dizer, eu não tou bem mesmo, e pra piorar tudo, não posso dizer o motivo. Tá, pode parar de ler agora se quiser, e me xingar também, aproveita, eu também não me leria se fosse você. Mas é que tenho ao menos de arranjar um jeito de desabafar! É nhengo-nhengo demais pra paciência de qualquer um, mas graças a deus o auge da liberdade de expressão foi atingido nesta terra de ninguém que é a internet, e aqui você pode escolher não saber do que eu tou falando sem que eu precise calar os meus dedinhos sobre o teclado. Santa tecnologia, obrigada por tudo. Amém.

Era uma TPM da porra nesses dias que passaram, e agora q o sangão desceu eu não vi nada mudar. Muito pelo contrário, eu tou é mais deprimida, mais insatisfeita e mais ansiosa que nunca, e haja amor de namorado, filha e mãe pra me suportar.

Deve ter tido a ver com os shows de The, sim, com certeza. Bem... Como eu disse ao meu amigo Tiago, as coisas foram melhores do que eu imaginei, e piores do que eu gostaria que fossem.
Por que?!
Porque o povo de The tem problema, fios. A galerinha jovem, sabe? É que eles devem sofrer de alguma doença que se alastrou e persiste por lá, e que leva as mentes juvenis a um estado muitas vezes visto por mim (e por todos que não sofram de alienação pré-vegetativa), mas nunca em um grau tão avançado, de total oligofrenia.
Eles são completamente dementes, meu povo, massa de manobra braaaba... QI de ostra paralítica, ou menos até, coisa triste de se ver. Música lá pra dar ibope junto às mentes brilhantes só se for do sertanojo pra baixo... É swingueira, é a desgraceira, é o fim dos tempos, deus nos acuda e salve-se quem puder!! É CILADA, CORRE BINO!!

Vai dar claramente a maior confusão postar isso, mas é que eu tinha que dizer, senão eu ia morrer. Tá bom também se eu não fizer show nunca mais por lá... E merda pra mim vai ser a mesma coisa, já que o povo além de retardado ainda por cima deve ter mãos de bola, que os impedem de bater palmas para os infelizes que estão em cima do palco, oferecendo algum sentido à noite de sexta-feira deles.

Cacete, falei. E agora que o balde e o pau da barraca e o escambau já foi chutado, eu vou dizer mais uma coisa. As minas de lá são umas princesas de lindas, e umas ogras de mal educadas. Tudo sozinha... Bando de coitadas. Que nada, bem feito, coisa que não suporto é essa estupidez inerente às mulheres mal comidas. As doidas montadas feito travestis, parecendo vir diretamente das vitrines das boutiques mais chiques, e com aquelas caras de que tudo ao redor estava fedendo. Meu PAU. E os cabelos?? Ganhava uma passagem pro Zimbábue quem achasse um cacho ali... Pelo jeito nem os neurônios das girls tinham mais aquele jeitinho pixaim... Foram todos queimados pela chapinha.
E eu não vou nem comentar dos carinhas porque falar das meninas já me deu enjôo suficiente, e não é nada delicado vomitar no pc, principalmente ele não sendo seu.

Lógico que me senti O BAGRE abandonado no deserto das TREVAS. Eu adoeço gente, quando a *qualhiragem é demais. Sabe o que é a pessoa estar numa cidade estranha, numa boate estranha, cercada de gente estranha e não ter uma santa alma pra te oferecer um olhar amigável, por mais rápido que seja? Nem na fila do banheiro, nem no balcão do bar, nem na puta que pariu? Nunca mais quero passar por isso outra vez na vida.

Voltei correndo pro hotel assim que desci do palco, e no outro dia acordei com a inacreditável notícia de que todos haviam adorado meu show.
Como assim?!
Pára o mundo, tô tonta, quero descer.
Gente, eu fui a primeira artista na história da música a ser ovacionada com uma salva de palmas telepáticas?!

Me espicha num cabide, fiaaaa!!!!!! Tô passaaadaaaa!!!!



*qualiragem: termo muito usado no Maranhão para designar viadagem, boiolagem, frescura e cuagem de toda forma.

domingo, 5 de julho de 2009

Coisas estranhas ao seu lado

Eu sinto coisas estranhas por você. Nunca senti igual por ninguém, e por isso mesmo chamo de coisas estranhas.
Eu não te amo, definitivamente. Não imagino nossos sobrenomes misturados, filhos com você, nem qualquer vida possível ao seu lado. Nada disso. Não me interessa detalhes sua história, nem conhecer mais profundamente as pessoas que você é.
Mas você me dá coisas estranhas. Tipo vontades insanas, tipo correr perigo, fazer bobagem sabe? Você me causa esses troços todos. E me dá vontade de chorar quando simplesmente some, e de gritar quando, do nada, aparece. Eu não entendo.
Queria poder dizer claramente o que sinto e me libertar dessa mania infeliz que eu tenho de ser sempre tão comedida, e compassada, e cautelosa. Eu queria dizer assim, na tua cara, num desses momentos que a gente tivesse de bobeira, que você me desestrutura, rapaz.
É que toda vez depois de te ver eu fico rebobinando (porque eu sou do tempo do vídeo-cassete) cada expressão, cada sorriso fácil seus, pra reviver aquilo que eu vivi ao seu lado, mas não estou afim de viver outra vez.
Sinto uma saudade fodida de você, mas não quero te ver nunca mais.
Porque do seu lado eu não sei quem sou. É isso. Eu queria dizer na tua cara, seu alienígena, que eu não quero mais saber de você, porque eu não consigo me reconhecer do seu lado, você me olha e eu me transformo numa criatura que nunca conheci antes, cheia de uma fragilidade irritante, como se você me quebrasse em pedacinhos e me juntasse com as partes todas fora do lugar e eu não soubesse o que fazer com elas.
E eu tenho medo de você e de tudo isso que ficar sob seu eixo me causa. Nunca fui de me assustar com o que desconheço. Mentira. Mentira deslavada, lorota boa essa minha. Eu sou mulher e trago o medo na bagagem do meu gênero, mas medo assim ainda não tinha sentido. Não estou falando de medo terror não, é uma coisa muito mais sutil, como se fosse uma forma refinada de medo que, injetada na minha corrente sanguínea, me deixasse sempre num estado entre o surto e a tranquilidade. Constantemente em alerta, eu diria.
Acho que, mais que tudo, você me causa coisas estranhas porque com você eu sinto uma vontade incontrolável de viver tudo até o limite, do seu lado eu me sinto plenamente fora do juízo, fissurada nos segundos presentes, liberta dos acontecimentos ao redor. E mais do que qualquer das outras, a coisa mais estranha que sinto é me satisfazer das lembranças de você...
Só por não suportar o peso da felicidade quando estou ao seu lado.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Stand By Me

Ela acordou nesse dia de tpm. Louca, louca do juízo. E levantou da cama assim meio atarantada, meio automática, como se uma bomba naquele instante tivesse arrancado o teto do quarto e disparado seu instinto de correr sem que ela tivesse tempo de pensar pra que mesmo precisava fazer aquilo.
Colocou os pés numas havaianas velhas pretas que jamais assumiriam esta utilidade se ela estivesse em um dia comum, e arrancou o chambre tortamente pelo corpo, quase a rasgar as alças tamanha a pressa e violência ao puxá-las pescoço afora. Entrou no chuveiro instintivamente, já que não costumava tomar banho muito cedo da manhã, e sentiu que seu corpo agradeceu a água morna. Era ele, aquele seu corpo sempre tão suave, que a tinha levado até ali, ele precisava fazer alguma coisa pra controlar aquela mente à beira do desmantelo. Saiu do banho um pouco menos acelerada - vitória do organismo, inconscientemente preservando sua permanência neste mundo - e se dirigiu ao quarto.
Nada de hidratante, não estava com paciência para carinhos, tampouco os que imprimia sobre sua própria pele. Vestiu um vestido desbotado, meio da cor do seu humor, cabelos presos num coque estilo vá-se-à-porra, calçou a primeira sapatilha que lhe passou pela vista e cuidou-se de aplicar um pouco de desodorante nas axilas, porque cheiros impróprios com certeza piorariam em quantidade sua intranquilidade mental - e nesta hora foi mais uma vez o intinto de preservação que lhe falou à consciência.
Saiu de casa. Melhor dizendo, fugiu, por que doido de verdade foge, se solta, se desamarra, não simplesmente sai assim só como quem não tem riscos a oferecer a si mesmo e aos demais indivíduos.
Dentro do carro devaneou um pouco, sem que prestasse reparo em seu estado. [Importante: ela de fato não sabia que estava do jeito que estava. Não se tocava de seu ritmo, de tanto que estava acostumada a simplesmente ser em todos os momentos, sem se importar como, porque, pra que ou seja lá o que fosse. Ela era sempre o que sentia sem tomar conhecimento, e naquele dia ela era ela também, ainda mais louca.]
Começava a tocar uma música de Jonh Lennon na voz ótima de um cantor que nunca ouvira antes, e era Stand By Me, covardia do programador, "oh darling, darling stand by me... Oh! Stand by me!..." e ela se lembrou do infame da noite de três dias atrás, aquele demônio com distúrbios de identidade, que não só se fazia passar por anjo como era travestido até a pele, até os olhos, de anjo da mais alta patente celestial.
Danou-se então a balançar o corpo feito bêbada, olhos fechados apertados, cara de orgasmo, cantando a música com sentimento, uma mão no peito e a outra no ar dançando e dando mexidinhas rápidas entre os espaços da melodia, pra marcar em si as investidas da canção. Passou uma senhorinha rumo à padaria e, ao olhar a moça gravemente desincompatibilizada com a realidade, não pôde deixar de se lembrar que na juventude até a loucura mostra uma face mais bonita e menos vulgar, a velhice era mesmo uma desgraça.
E a outra descangotada, a música pela metade, e ela realizando na lembrança o puto que tinha chegado só pra lascar com a sua paz tão volátil. Era ele em cima dela, metendo a cara por seu cangote, sugando até a última nota olfativa de seu cheiro, roubando seu cheiro, espalhando o dele nela toda, se esfregando entre suas coxas, entre seus peitos, falando todo tipo de putaria mais linda e refinada, apertando sua bunda, beijando sua boca, com força, com ternura, com vontade, por pura e ingênua maldade.
Era pra ela ir à faculdade, tinha aula dali a 30 minutos com um professor que fazia juz a este título com todos os méritos, mas que não tinha cacife o suficiente pra fazê-la concentrar-se em sua disciplina naquele dia, e além do mais ele era gago, careca e combinava o cinto caramelo com o sapato da mesma cor num conjunto de camisa xadrez por dentro da calça de brim cru. Não dava. Ela não ia mais pra aula, e inclusive nunca entendeu por que homens ditos intelectuais tinham esse gosto cretino por sapatos de cores ridículas e calças de brim, devia haver algum significado oculto naquela cafonice toda. Não, uma cerveja seria mais apropriada para seu estado de espírito.
Pois bem. O bar era daqueles botequins com cara de sujo que os estudantes adoram, mas que ela não gostava tanto e nem por isso deixava de ir uma vez ou outra, aliás tanto faz gostar ou não quando uma coisa tem que ser feita. E ela tinha que tomar uma cerveja. Uma porque é assim que se costuma falar. Nenhum louco se desamarra pra sair comedido pela rua.
Quando já estava sentindo as mãos formigando e os movimentos passaram a tomar um tempo diferente do tempo em si ela começou a dançar. Sozinha, a última folha caída do outono bailando tonta e delirante, voltejando no meio do boteco e dos olhares incrédulos de dois amigos que ali dividiam amenidades e uma cerva já suada. Foi aí, numa das voltas do delíquio, já muito consumida pelo alcoól e pela crescência de algo em si que ela só sabia que era vontade, mas não sabia de quê, que ela pegou o telefone e ligou.
Nunca, nunca na vida ela aceitaria uma vulgaridade daquelas em bom estado. Mas aquele jamais fora o caso e o rapaz do outro lado estranhou quando às 15:42, no meio de um cochilo clandestino numa aula importante mas insuportável, uma voz falou meio sem separar as palavras, mas firme, que queria vê-lo.
Ele lembrava dela. Muito mais do que deveria, é bom que se diga, mas daquela voz não. Lembrava de uma criatura no limite da sublimação dando-se às mãos dele e a ele mesmo como se não se quisesse mais de volta. Lembrava do cheiro especiado de seu ventre e de sua nuca encamurçada de pelinhos aloirados e muito graciosos, lembrava da cinturinha exata e dos quadris soltos, das coxas roliças que ela possuia, bonitas, bonitas mesmo, de doer e de matar, que ele apalpava e amassava e admirava e chupava e lambia com toda a vontade do mundo, da bunda que ele procurava não lembrar em lugares públicos, lembrava da boquinha de lábios viradinhos e pequenos, do nariz antipatissíssimo, presunçozíssimo que dava a ela um ar de menininha-bem-criada-boa-de-levar-umas-palmadas, do olhar inocentemente pornográfico, dos dentes inacreditáveis que ela possuia. Mas não daquela voz.
Não, aquilo era voz de mulher desesperada que se dava ao descabimento de expor seu desespero. Aquilo era a voz de alguma rampeira que ele devia ter comido sob o complacente e desastroso julgo da bebida. Aquilo devia ser um erro que ele acabara de descobrir que jamais deveria voltar a cometer. E ela gritando maluca que estava bêbada, que estava no bar, que estava doida pra tirar a roupa e colocar a música Stand By Me pra dançar só pra ele. Imagine só. Um verdadeiro comício telefônicoestapafúrdio de carência, debilidade mental e falta de bom senso.
Ou então - lá no fundo falou mais a idealização que já estava com vontade de virar realidade - era a voz em versão despedaçada da moça que o havia encantado a uns dias atrás, na festa de uns amigos em comum.
Não que ele fosse um rapaz facilmente impressionável, ou simplesmente mais um genuíno exemplar de macho ordinariamente ortodoxo. O que acontece é que ele a havia pensado de maneira diversa da que naquele instante se apresentava. Ele engenhava a perfeita cena: ela trôpega, fragilizada, meio demente até, fazendo o melhor papel de mulher sem o menor valor, sem compostura alguma. Descabelada naturalmente, com a roupa toda amarrotada e sem saber a muito por onde andavam seus sapatos. Não. Não era assim que ele preferia vê-la, mas era aasim que aquela voz a desenhava em sua mente.
Convém ressaltar, todavia, que tampouco a imaginava uma santa prostrada no altar ou mesmo numa modalidade mais sutil de pureza e austeridade. Longe disso, é muito bom que se diga. Incabível para ele, não só por sua aversão quase patológica a moças recalcadas como também pela recordação pungente e amiúde, detalhada em pormenores, do que ela fora capaz de fazer, na última vez em que os dois estiveram a sós. A diferença é que nesta bendita, nesta inexprimível última vez, ela havia sido não só boa, não só inesquecível. Ela havia sido a mulher certa.
Mulherzíssima, com todos os íssimas, onas, udas, todo o resto de terminações que houvesse disponíveis, sobrando espaço ainda para inimagináveis neologismos. Uma taca de mulher, como ele mesmo diria. Sem melindres ou qualquer sorte de frescuras, inteirona lá pra ele, sendo e fazendo tudo numa noite só. Um luxo pra ele até então impensável, uma covardia de mulher.
E curtindo tudo de cara limpa, muito delicada, muito sofisticada, com faces de estar totalmente à vontade com toda aquela anarquia que estava fazendo, uma verdadeira diaba. Ele lá totalmente fulminado, dizimado de prazer, e ela dona da situação, atenta aos mínimos detalhes, minucisa e esmerada feito uma aranha envolvendo o macho em sua teia, para depois devorá-lo.
Era seguramente a mulher mais encantadoramente ousada com quem ele já topara, e durou horas até que ele forjasse na cabeça o desejo de tê-la nua em sua cama, em todas as noites de sua vida.
Mas quedou que agora ela já não lembrava em nada aquela moça que ele trazia consigo, junto à mente. Nada por nada. Parecia sim não fazer a menor idéia do que estava fazendo, contraditória e redundantemente mesmo. Parecia perdida a coitada. Isso, a coitada. Completamente perdida. E ele não pôde deixar de sentir sincera pena dela neste momento, embora já estivesse começando a gostar da ideia de que talvez fosse ele o responsável por desencadear nela toda aquela surpreendente reação.
Pois foi por dó mesmo, e vamos ser honestos, uma pontinha de perversidade, que ele pediu para que ela o aguardasse, que ele chegaria dali a um minuto só. Por precaução e sabe-se lá o que mais, pediu que ela não colocasse mais nenhuma gota de álcool na boca. (CONTINUA)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Relatório de trabalho

Definitivamente os templates me odeiam.
E partir de agora, e até que eles mesmos me provem o contrário, eu tb os odeio. E eu sou orgulhosa. ¬¬
A noite de hoje foi parcialmente perdida, a não ser pelo cabeçalho engraçadinho que coloquei no blog. E por eu ter escutado I Will Survive na versão do Cake (que é a melhor, indiscutivelmente) e Less is More da Joss Stone até eu sacar que os títulos delas me passavam mensagens subliminares. A primeira é auto explicativa, né? Eu não vou morrer porque não consigo fazer o blog que eu quero, eu acho. E a segunda me diz que MENOS inteligência me faz passar MAIS tempo jumentando na tela do computador (less is more, hãhã? sacou?).
O desespero chegou num pico que eu fui capaz de ligar pro meu pai em pleno sábado sagrado dele (ele não é adventista não gente, só curte uma cervejinha futebolística no sábado) pra ele me explicar qualquer coisa sobre isso daqui. Foi por sugestão dele q eu resolvi fazer esse blog de teste, ele disse que era bom pra eu treinar (ou pra eu descobrir q não tem jeito pra mim). Depois da ligação fiquei me sentindo um pouco melhor, ultimamente essa estória dos blogs tem unido bastante eu e o papai. Até ele descobrir que eu sou uma fraude, é claro.
Meu namorado foi deitar às 12:00, e já são 3 da manhã. Tou com medo de perder o namorado antes de aprender a fazer um blog que preste.
E eu tou vesga já, não sei se é de sono, de dor na vista por causa da tela do pc, ou da burrice que quando é demais chega a deixar a gente assim.
E não tem mais nada pra falar, eu só continuo escrevendo porque ainda não tou conseguindo acreditar q vou dormir mais um dia sem conseguir ajeitar essa budega aqui.

É, paciência. Amanhã é outro dia, e "só a luta muda a vida" (PSTU, obrigada por me fazer acreditar, e rir).